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Pensei em liberar esse texto no dia 08 de março, porém não quis ser clichê e esperei toda a comoção do dia Internacional de Mulher passar, para compartilhar com vocês o SoSeLit desse mês. Afinal como anda a nossa consciência social em relação aos livros que lemos?
imagem: Shutterstock |
Levantar a bandeira da igualdade entre homens e mulheres é mais do que compartilhar textos feministas nas redes sociais. É mais do que se indignar com casos de abuso e violência contra a mulher que aparecem nos telejornais. É lutar todos os dias para nossas palavras se tornem ações, e isso se aplica a forma como consumimos a literatura, música e até mesmo filmes e séries, e por que não novelas.
Em vários livros é possível ver o quanto o relacionamento abusivo é romantizado, e o mais tristes, - por autoras. Livros quem que os personagens masculinos seguem o estereótipo do “macho alfa”, o bad boy e a personagem feminina é retratada como frágil, submissa e que precisa de proteção.
Não acho nada romântico quando o personagem masculino pega a mocinha e a beija força. Não acho nada romântico quando ele a trata como propriedade, tendo crises de ciúmes quando a vê conversando com outros homens. Não acho nada romântico quando na narrativa durante as cenas de sexo os atributos físicos da mulher são levados mais em conta do que como ela se sente naquele momento.
E me perdoem, mas sinceramente comigo não cola mais a velha formula literária de que “o amor muda as pessoas”, até por que para começar essas atitudes não podem ser chamadas de amor.
Belo Desastre foi o primeiro livro New Adult que li, e não escondo de ninguém a minha “aversão” a história de Jamie McGuire, por não aceitar o relacionamento de Travis com a Abby como algo emocionalmente saudável. Não vi romance algum durante a leitura, e sim uma tentativa de justificar o comportamento agressivo do protagonista, romantizando suas atitudes abusivas.
Do mesmo modo que não consigo ver nada de romântico na trilogia Cinquenta Tons de Cinza, por que não tem nada de romântico um cara fazer, a mocinha assinar um contrato em que uma das cláusulas diz: “Dominador aceita a Submissa como propriedade sua, para controlar, dominar e disciplinar durante a Vigência”. As coisas começam errado quando uma pessoa trata a outra com propriedade.
E esses são apenas dois exemplos tristes do que encontramos na literatura New Adult e Erótica (...). O que me faz questionar, até quando vamos achar romântico as autoras retratando outras mulheres como o sexo frágil que caem de amor pelo primeiro homem másculo e poderoso que quer “protege-la”.
Que a vida dela só vai ter sentindo se ela estiver em um relacionamento. Que a mocinha deve se sentir muito sortuda pelo “deus grego” estar afim dela, afinal ela é tão sem graça. Por que não trazer para literatura mulheres que estão em busca do amor sim, mas que não se colocam abaixo de nenhum homem. Por que não trazer os dois em pé de igualdade nos relacionamentos.
A resposta é simples, - por que infelizmente são histórias com machos alfas e mocinhas frágeis que vendem mais. Nós fomos criadas para idealizar que o “me joga da parede e me chama de lagartixa”, é de demonstração de paixão e amor. Nós fomos criadas para aceitar como normal que o cara, “calar” a boca de uma mulher durante uma discussão com um beijo é romântico.
Somos nós que consumismo músicas em que a letra nos trata como objetos e filmes/séries/novelas que tratam o estupro de forma banal e aceitável dentro de um relacionamento.
Enquanto continuarmos a aceitar isso tudo como normal e romântico, nossas palavras de protestos vão sempre soar contraditórios. Sabe aquela história de prática x teoria? É assim que funciona. Não adianta nos revoltarmos quando vemos atitudes abusivas no mundo real, se aceitamos as mesas atitudes no mundo literário. Não adianta discutir com o colega de trabalho por causa de um comentário dele, mas aceitar o mesmo tipo de comentário em músicas e outras formas de entretenimento.
Somos responsáveis por aquilo que cativamos e consumimos e se queremos um futuro melhor para a próxima geração, precisamos começar a mudança hoje e principalmente por nós mesmos.
Pensem nisso, e até o próximo post!
A Sociedade Secreta Literária é formada pelos blogs: Bela Psicose, Eu Insisto, La Oliphant, Literasutra e o My Dear Library. A nossa intenção ao criar o grupo é falar de assuntos bons e “ruins”, e que normalmente as pessoas não falam abertamente na blogosfera.