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De todos os lançamentos literários previstos para esse ano sem dúvidas, O Timbre era um dos mais esperados por mim. Com uma narrativa inteligente e permeada de críticas nem sempre sutis a sociedade atual Neal Shusterman construiu ao longo da trilogia Scythe, uma história complexa e ao mesmo tempo marcante.
Confesso que demorei para escrever a resenha do último livro da trilogia, porque ainda não sabia como me sentia em relação ao final. De modo geral, O Timbre oferece uma conclusão satisfatória para a história. Porém a forma como isso acontece, chega a ser um tanto “confusa”, principalmente porque segue uma direção diferente do que vinha sido traçada nos livros anteriores. Gostei em partes do que encontrei aqui, mas admito que fiquei sim um pouco decepcionada.
• Editora: Seguinte
• Ano de Lançamento: 2020
• Número de páginas: 597
• Classificação: Bom
A humanidade alcançou um mundo ideal, em que não há fome, doenças, guerras, miséria… nem mesmo a morte. Mas, mesmo com todo o esforço da inteligência artificial da Nimbo-Cúmulo, parece que alguns problemas humanos, como a corrupção e a sede de poder, são igualmente imortais. Desde que o ceifador Goddard começou a ganhar seguidores da nova ordem, entusiastas do prazer de matar, a Nimbo-Cúmulo decidiu se silenciar, deixando o mundo cada vez mais de volta às mãos dos humanos. Depois de três anos desde que Citra e Rowan desapareceram e Perdura afundou, parece que não existe mais nada no caminho de Goddard rumo à dominação absoluta da Ceifa — e do mundo. Mas reverberações da Grande Ressonância ainda estremecem o planeta, e uma pergunta permanece: será que sobrou alguém capaz de detê-lo? A resposta talvez esteja na nova e misteriosa tríade de tonistas: o Tom, o Timbre e a Trovoada.
Atenção! Essa resenha pode conter spoilers dos livros anteriores. Para quem não quiser correr o risco pode pular cinco parágrafos.
O jovens Citra Terranova e Rowan Damisch, não faziam ideia do quanto a suas vidas estavam prestes a mudar, após o encontro com o ceifador Faraday. Recrutados como aprendizes, ambos passaram por meses de treinamento para aprender a matar ao mesmo tempo que se viam cada vez mais envolvidos nas conspirações da Ceifa.
Citra instruída pela ceifadora Curie, passou no teste do Conclave e se tornou a Honorável Ceifadora Anastássia. Já Rowan não teve a mesma sorte. Depois de meses tendo sanguinário Goddard como professor, ele acabou se rebelando contra a Ceifa. Rowan então vestiu o manto negro proibido pela ordem e ao assassinar os ceifadores corruptos sobre a alcunha de Ceifador Lucifer, o aprendiz vira inimigo sendo caçado por aqueles que o treinaram.
Em uma sociedade perfeita governada pela inteligência artificial da Nimbo-Cúmulo, a Ceifa faz suas próprias leis. Mas isso não quer dizer, a Nimbo esteja completamente cega para os atos cruéis cometidos pelos portadores da morte. Quando uma tragédia sem precedentes acontece, a Nimbo se cala e o mundo está novamente nas mãos dos humanos, que depois de anos sendo diariamente guiados agora estão totalmente perdidos e com medo.
Mas ainda há uma esperança. Greyson ou Timbre como passa a ser chamado pelos Tonistas, uma religião em que seus fiéis vivem como nos tempos antes da Nimbo-Cúmulo controlar nosso mundo, é o único com quem a inteligência artificial continua se comunicando. Esse fato, logo se torna conhecido por todos e Greyson acaba se transformando numa espécie de “novo profeta”. Porém o que ninguém esperava, que o fanatismo de alguns seguidores gerasse atos violentos e a uma guerra civil, tudo em nome de Vossa Sonoridade.
Em meio ao caos instaurado a Nimbo-Cúmulo mesmo silenciosa e distante, trabalha em um plano para dar a humanidade uma nova chance de ter um futuro seguro e pacífico. Quando duas figuras importantes emergem das profundezas, as peças do quebra-cabeça finalmente começam a fazer sentido e a população passa a enxergar uma luz no fim do túnel.
A escrita de Neal Shusterman é fantástica e a trilogia Scythe sempre terá um lugar especial em meu coração de leitora. Só que muita coisa em O Timbre, podia ter sido condensada já que não acrescentaram em nada na conclusão da obra. O fato da narrativa possuir três linhas de tempo diferente em que a cada momento um personagem é o narrador, causou uma certa confusão há princípio, pois passa a sensação que são várias histórias acontecendo ao mesmo tempo.
Outro ponto é que além dos personagens já existentes, o autor inseriu novos personagens que pouco contribuem com a evolução do enredo. O Rowan por exemplo, é um dos casos mais tristes de potencial desperdiçado que já vi em uma trilogia. Em A Nuvem a sua participação já tinha sido apagada, aqui ela foi quase inexistente. A Citra até consegue se destacar em O Timbre, mas de alguma forma o carisma e o peso do papel que ela tinha, acabaram se perdendo em meio tantas tramas paralelas.
A sensação que tenho é que o autor tentou dar voz a todos os personagens e com isso, acabou silenciando figuras importantes como o Faraday e até mesmo o Goddard, que no final se revelou um vilão caricato e que só enfraquece a cada capítulo. Gostei da trajetória do Greyson na história e sinto que entre A Nuvem e O Timbre, ele acabou se tornando junto com a Nimbo-Cúmulo um dos grandes protagonistas da trilogia e talvez, por esse motivo acredito que ele merecia mais.
© Ariane Gisele Reis. |
Talvez o excesso de expectativas tenha prejudicado a minha interação com a história. Mas como não criar expectativas, depois de esperar tanto tempo por esse livro? Acredito que o meu maior problema com O Timbre foi, o modo “fácil” e conveniente como as coisas se resolveram. Não tem como, não ficar decepcionada ao ler um livro de quase 600 páginas em tudo se resolve em quatro, e que deixou mais perguntas do que de fato deu respostas.
Ao abordar um tema tão complexo com a fragilidade da vida, Neal Shusterman escreveu uma obra instigante e cheia de nuances interessantes, mas que do meu ponto de vista podia ter tido um final mais digno, harmonioso e condizente com os livros anteriores. Porém às vezes a intenção do autor era justamente criar uma grande dissonância. Quem sabe?